Do favoritismo à derrota: a lição das urnas em Porto Velho

  • 29/10/2024
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Do favoritismo à derrota: a lição das urnas em Porto Velho

Confira o editorial


A eleição municipal deste ano em Porto Velho revelou como estratégias políticas tradicionais podem falhar diante de novas dinâmicas eleitorais. Isso levou a uma das maiores reviravoltas eleitorais da história política rondoniense. Mariana Carvalho (União Brasil), que havia conquistado 111.329 votos (44,53%) no primeiro turno contra 64.125 (25,65%) de Léo Moraes (Podemos) — uma diferença expressiva de 47.204 votos — não apenas perdeu a liderança como também registrou uma queda de 5.923 votos em sua votação final.

O apoio explícito do ex-presidente Jair Bolsonaro demonstrou ser uma faca de dois gumes. Se por um lado consolidou sua base conservadora, por outro provocou uma forte rejeição entre eleitores moderados e independentes, que acabaram migrando para Léo Moraes.

O racha no União Brasil, materializado no apoio público do deputado Fernando Máximo a Léo Moraes, demonstrou-se decisivo também. Estimativas indicam que aproximadamente 20% dos votos originalmente alinhados ao partido migraram para o candidato do Podemos, representando cerca de 22 mil votos.

O aumento significativo das abstenções também não pode ser ignorado. No primeiro turno 93.663 eleitores (25,86%) não compareceram às urnas para votar. No segundo turno esse número subiu para 110.962 votos (30,63%) representando um acréscimo de 17.299 eleitores que deixaram de votar. Este crescimento de 4,77 pontos percentuais nas abstenções foi particularmente prejudicial à candidatura de Mariana Carvalho.

A análise geográfica do aumento das abstenções revela que elas foram mais acentuadas em zonas eleitorais onde ela havia tido melhor desempenho no primeiro turno

Já a dinâmica dos votos brancos e nulos entre os turnos revela um fenômeno crucial para a vitória de Léo Moraes. No primeiro turno, os votos brancos (7.371 - 2,74%) e nulos (11.201 - 4,17%) totalizaram 18.572 votos (6,91%). Já no segundo turno, estes números caíram para 3.619 brancos (1,44%) e 7.143 nulos (2,84%), somando 10.762 votos (4,28%) — uma redução de 7.810 votos.

Esta expressiva queda indica que eleitores que anteriormente não haviam se posicionado decidiram fazer uma escolha efetiva no segundo turno. O padrão de votação sugere que Léo Moraes foi o principal beneficiário desta definição, conseguindo captar aproximadamente 70% destes votos que migraram de brancos e nulos para votos válidos.

Este movimento foi decisivo pois, além de compensar o aumento das abstenções, contribuiu significativamente para a virada no resultado, demonstrando que sua estratégia de campanha foi mais eficaz em conquistar eleitores inicialmente indecisos ou insatisfeitos com as opções do primeiro turno.

Há ainda a questão da estratégia adotada por Léo Moraes que provou ser extremamente eficaz, ao se posicionar como o "candidato do povo" versus o "establishment político" de Rondônia, tática, aliás, usada por Jânio Quadros para vencer a eleição presidencial de 1960. Enquanto Mariana apostava na força das lideranças políticas tradicionais, Léo construiu uma narrativa de proximidade com o cidadão comum que ressoou fortemente no eleitorado, principalmente nas periferias. Todos esses fatores somados resultaram na virada histórica de Léo Moraes no último domingo.

Diário da Amazônia


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